segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Racismo



Cresci ouvindo histórias de preconceito racial. Não, meus pais não são militantes do movimento negro. Minha mãe é branca, meu pai negro e ele sofreu com o racismo por parte dos meus avós maternos. Meus pais sempre fizeram questão de nos mostrar que o amor esta acima de tudo. Que não há cor, religião, nem nada que supere a força do amor. Minha mãe tinha 13 anos quando começou a namorar meu pai que tinha 15, mas eles se conheciam desde sempre. Eram vizinhos de parede, uma casa colada na outra. Foram dez anos até se casarem. Meus avós maternos não foram ao casamento, nem acompanharam as quatro gestações da minha mãe. Somos quatro irmãos morenos e lindos de morrer. Meus pais sempre visitavam meus avós e nos levavam junto. Tivemos convívio com eles, mas não nutrimos amor, apenas respeito. Antes de morrer, meu avô pediu desculpas a minha mãe.

Por que estou contando isso? Bom, meu Francisco é branquinho como pai e por duas vezes - eu disse DUAS vezes - acharam que eu fosse a babá dele. Não foi a primeira vez que sofri com o racismo, mas agora me senti ofendida. Não por ser a babá, profissão digna como qualquer outra. Mas por eu ser negra não posso ter um filho branco? Uma senhora aqui no condomínio onde moro perguntou se eu ficava com o Francisco todos os dias e depois se eu dormia no trabalho. Foi aí que entendi. Falei que eu era a mãe dele, e ela na cara de pau, disse: "Ah, você é a mãe dele? Mas ele é tão branquinho". Nossa! Que vontade de socar a cara dela! Minha resposta foi a seguinte: "Senhora, o apartheid foi na África do Sul. Aqui no Brasil, o negro pode procriar com quem ele quiser." Dei as costas e quando a vejo de um lado do play eu vou para o outro.

A última foi no pediatra. A pergunta foi bem direta: "Você é a mãe dele ou a babá?". Fiquei mal. Chorei. Me coloquei no lugar do meu pai a trinta anos atrás. É muito triste constatar que existem pessoas que julgam pela aparência, cor, cargo, idade, nível social. Todas as babás são negras? É um requisito do cargo? Por isso chorei de novo com o que aconteceu com o Tinga, jogador do Cruzeiro. Imagino a cabeça dele, dos filhos, da família por passarem esse constrangimento. Eu, que sou super explosiva, tive reações passivas nas duas situações. Não chamei a polícia, nem me ocorreu chamá-la. Fiquei tão perplexa que travei.

Espero que o Tinga não se abale e que mostre sua força em campo. Espero não passarmos por isso de novo. Espero ter força para denunciar. Por isso, estou #fechadocomotinga.

RACISMO É CRIME INAFIANÇÁVEL.

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